Livro Salão Olímpico 2003/06
para o lançamento do livro Salão Olímpico 2003/06
Quarta-feira, 11 de Abril, às 22h

Salão Olímpico, rua Miguel Bombarda, 257 - Porto


O livro
Salão Olímpico 2003/06, publicado em parceria pelo Museu de Arte Contemporânea de Serralves e o Centro Cultural Vila Flor e concebido por José Maia.

Salão Olímpico 2003/06 documenta toda a actividade do Salão Olímpico entre 2003 e 2005, assim como, as exposições Busca Pólos I e II realizadas no ano de 2006 no Centro Cultural Vila Flor - Guimarães e no Pavilhão Centro de Portugal - Coimbra. Diversos autores foram convidados, para esta edição a reflectir a actuação e experiência do Salão Olímpico, através de ensaios escritos e visuais.

Salão Olímpico 2003/06
Apresentação
- João Fernandes
Salão Olímpico - Ivo Martins
Sentámo-nos à mesa para conversar - José Maia conversa com Carla Filipe, Isabel Ribeiro, Eduardo Matos, Renato Ferrão e Rui Ribeiro, membros fundadores do Salão Olímpico
Montes da Verdade - Ricardo Nicolau
Salão Olímpico - Sandra Vieira Jürgens
Os Fanzines no Porto, Hoje - Marco Mendes
O autor como produtor - João Sousa Cardoso
Abrir o campo de acção - Rui Ribeiro
Depoimentos visuais
Exposições no Salão Olímpico
- Gisela Leal
Exposição Busca Pólos - Gisela Leal
Publicação Olímpico # 0
Publicação Olímpico # 1
Textos de Artistas
Flyers, Cartazes
Biografia dos artistas



Alguns ARTISTAS (no Salão Olímpico)

Amélia Alexandre

Alexandre a.r. Costa

Alexandre Osório

Alice Geirinhas

Ana Pérez-Quiroga

André Cepeda

André Sousa

Ângelo Ferreira de Sousa

António Caramelo

António Lago

António Leal

Arlindo Silva
Bruno Diogo

Bruno Alexandre Silva

Carla Cruz
Carla Filipe

Catarina Carneiro de Sousa

Catarina Felgueiras

Cristina Grande

Cristina Regadas

Domingos Loureiro

Eduardo Matos

Gustavo Sumpta

Isabel Carvalho

Isabel Ribeiro

Israel Pimenta

João Bonito

João Fiadeiro

João Giz

João Marçal

João Marrucho

João Fonte Santa

Jonathan Uliel Saldanha

Mafalda Santos

Manuel Santos Maia

Manuela T. Campos

Marco Mendes

Mariana Costa

Püpügrafik, Dandy Angel Fräulein Kaput, Demente, Marie

Miguel Ângelo Rocha

ááMiguel Bonneville

Miguel Cabral

Miguel Carneiro

Nuno Alexandre Ferreira

Nuno Ramalho

João Sousa Cardoso

Paulo Mendes

Paulo Pimenta

Pedro Amaral

Pedro Barateiro

Pedro Costa

Pedro Rocha

Pedro Lima

Renato Ferrão

Rita Castro Neves

Rita Tavares

Ruben Santiago

Rute Pimenta

Sandra Vieira Jürgens

Sérgio Cruz

Sónia Neves

Susana Chiocca

Vitor Lago e Silva




A derradeira performance do Salão Olímpico é um livro

por Ana Sofia Rosado

Joral Primeiro de Janeiro
ARTES E LETRAS

09 de Abril de 2007
http://www.oprimeirodejaneiro.pt


«Salão Olímpico 2003-2006» quer-se um registo da memória de um projecto alternativo de artes plásticas no Porto. Informal e independente, o Salão Olímpico nasceu no café homónimo da Rua Miguel Bombarda e frutificou num livro. Estamos no universo do jovem artista que assume a produção e divulgação da sua obra.


Concebido por José Maia, o livro «
Salão Olímpico 2003-2006» nasceu de uma exposição. O convite partiu de Ivo Martins, consultor artístico do Centro Cultural de Vila Flor (Guimarães), e pretendia registar em papel a história e actividade do projecto alternativo portuense. O livro é lançado no próximo dia 11 de Abril, às 22h00, no café que acolheu o projecto durante três anos, e encerra o percurso do Salão Olímpico, que cessou a sua actividade artística no final de 2006, com a exposição Busca Pólos. Vinte e dois artistas expuseram no Centro Cultural de Vila Flor (Guimarães) e no Pavilhão Centro de Portugal (Coimbra).
O projecto Salão Olímpico inaugurou em Março de 2003 no salão de bilhares da cave do café Salão Olímpico, Rua Miguel Bombarda, com «The stars turn into stripes forever», de Eduardo Matos e Renato Ferrão. Os 500 exemplares do livro bilingue (português/inglês) dão agora conta do trabalho de cerca de 70 artistas comprometidos em exposições, performances, apresentação e discussão de vídeos, numa edição conjunta do Salão Olímpico, Fundação de Serralves e Centro Cultural de Vila Flor (CCVF).
A ideia de fazer a publicação partiu do consultor artístico do CCVF, em finais de 2004, inícios de 2005. “Ivo Martins convidou-nos para realizar uma exposição, sugerindo que fosse uma espécie de retrospectiva, que desse conta de todos os eventos que foram feitos no Salão Olímpico durante o seu tempo de existência”, recorda Isabel Ribeiro. Contudo, quando os membros do Salão Olímpico se juntaram para pensar essa mostra, concluíram que o molde de retrospectiva não os satisfazia. “Os nossos objectivos, que eram os do Salão Olímpico, mantinham-se, ou seja, dar aos artistas oportunidade de apresentar o seu trabalho, sem uma linha curatorial definida, em que cada um desenvolve o seu trabalho livremente”, explica a artística plástica.
Conforme foram trabalhando na apresentação, chegaram ao formato Busca Pólos. “A certa altura decidimos rescindir do total do cachet dos artistas para editar um livro” – continua – “porque sentimos a necessidade de registar o que tinha sido feito”. O Centro Cultural de Vila Flor sugeriu uma co-produção com a Fundação de Serralves para financiar o projecto Busca Pólos, que agora incluía uma publicação.
Era a primeira vez que o Olímpico saía do Salão. “A proposta de expor fora levantou-nos um problema, porque o projecto sempre tinha funcionado no café”, diz Eduardo Matos. O grupo decidiu transferir para o CCVF e para o Pavilhão Centro de Portugal a metodologia do Salão Olímpico. “As exposições que apresentávamos e o nosso universo de artistas tinham uma afinidade geracional, mas também conceptual. Entendemos, por isso, organizar essas exposições pegando nesse caldo multidisciplinar, do vídeo com a performance e as artes visuais”, justifica.
A publicação foi trabalhada ao pormenor por José Maia, que deu corpo à ideia original de ser documental. O Busca Pólos tem assim quatro momentos: duas exposições em locais diferentes, Guimarães e Coimbra, um ciclo de performances e vídeo, e o livro «Salão Olímpico 2003-2006». Reunindo todos os artistas e colaboradores do projecto, o lançamento do livro a 11 de Abril encerra definitivamente o Salão Olímpico. O projecto artístico começou a ser planeado nos finais de 2002 para arrancar em Março de 2003 e realizou a sua última actividade dentro de portas, em Novembro de 2005, com «Lenny», de Nuno Alexandre Ferreira.

O caminho escolhido
No início, José Maia não sabia que forma tomaria esta publicação. Mas cedo percebeu que faria sentido editar um livro que cobrisse toda a actividade do Salão Olímpico e contextualizasse o trabalho dos jovens artistas plásticos na cidade. A publicação teria “um papel documental, registando toda a memória do Salão Olímpico”, assim como também contribuiria para “a reflexão das questões relacionadas com a actividade dos artistas”, descreve. Dando igual importância às componentes texto e imagem, o livro resulta da colaboração de um vasto grupo de pessoas, nomeadamente a coordenação de Ricardo Nicolau e Filipa Loureiro, da Fundação de Serralves.
A João Fernandes, director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, cabe a abertura do livro, com uma contextualização da actividade dos jovens artistas emergentes do Porto, apontando-a como um desafio para projectos similares, enquanto que Ivo Martins faz uma abordagem à importância de criar circuitos artísticos alternativos com jovens artistas.
Em vez de optar pela premissa curatorial ou por uma reflexão individual sobre a actividade do Salão Olímpico, José Maia decidiu apresentar de seguida «Sentámo-nos à mesa para conversar». “Sendo a sede um café, animado pelas conversas, uma entrevista colectiva aos membros fundadores deveria constar obrigatoriamente”, justifica. Para além do nascimento e história do Salão Olímpico, os cinco membros partilham as relações estabelecidas com outros artistas, públicos, críticos de arte, curadores, galeristas e coleccionadores, caracterizando as obras apresentadas. Carla Filipe, Eduardo Matos, Isabel Ribeiro, Renato Ferrão e Rui Ribeiro analisam ainda a actividade desenvolvida no Porto, a exposição Busca Pólos e falam da revista e das performances exibidas.
Ricardo Nicolau, director adjunto da Fundação de Serralves que acompanhou o Busca Pólos em Coimbra, contribui com «Montes de verdade», “um ensaio metafórico sobre a actividade artística dos jovens, avançando com a relevância do desenho e das criações performativas na produção artística”, analisa José Maia.
Sandra Vieira Jürgens tem estudado a figura do artista comissário. Neste livro, a historiadora e crítica de arte “dá conta do enquadramento histórico da actividade dos artistas, enquanto organizadores e produtores das suas exposições desde o século XIX, centrando a sua análise no Salão Olímpico, de que faz um estudo de caso”, resume José Maia. No seu artigo, Sandra Vieira Jürgens sublinha: “As singularidades do espaço do Salão Olímpico foram assumidas, e esse espaço, diferenciado da área neutra e que associamos à galeria ‘cubo branco’, converter-se-ia num espaço de continuidade, possibilitando aos criadores trabalhar a inserção desse espaço físico e social no contexto da realidade quotidiana, de proximidade e interacção efectiva com o espaço público”.
Ainda dentro da actividade artística diversa do Salão Olímpico surgiu a Revista Olímpico, um fanzine A5 que conheceu o primeiro número em Maio de 2003. Desde o início do projecto que “os custos de toda a actividade saíram dos bolsos dos membros do Olímpico e dos artistas, e a revista não foi excepção”, refere Isabel Ribeiro. O segundo número da revista não chegou a sair do computador do designer por falta de verbas para impressão. Vai ser editado pela primeira vez neste livro, assim como o Olímpico 1, cumprindo a função documental desejada.
Para escrever sobre «Os Fanzines no Porto», José Maia convidou Marco Mendes, doutorando em Banda Desenhada, na Universidade de Vigo. O jovem artista versa sobre o que é um fanzine, quem são os seus criadores e de como surgem nos espaços alternativos. “Os textos de Sandra Vieira Jürgens e de Marco Mendes são muito significativos para entender a natureza da criação artística do Salão Olímpico”, defende José Maia. A realidade dos fanzines é pouco conhecida, tanto no Porto como no País. Trata-se, contudo, de “uma realidade plural que convoca temas diversos e autores de diferentes áreas artísticas”, justifica.
Artista plástico e doutorando da Sorbonne, João Sousa Cardoso apresenta «O autor como produtor». Ainda enquanto estudante de Belas Artes, este crítico de arte organizou exposições em galerias do Porto e no Mercado Ferreira Borges. João Sousa Cardoso estabelece aqui um paralelo entre os jovens artistas e os realizadores, reforçando a similitude das respectivas linhas orientadoras.
Único membro do Salão Olímpico que não vem da Faculdade de Belas Artes do Porto nem é artista plástico, Rui Ribeiro apresenta «Abrir o campo de acção». Em jeito de manifesto, o economista sublinha a necessidade de expandir a actuação dos artistas e de quantos se interessam por arte, além dos modelos tradicionais e dos espaços expositivos convencionais.

O discurso da imagem
Os depoimentos visuais reunidos neste livro são entendidos por José Maia como ensaios visuais, da autoria de criadores de BD ou de ilustração. Os convidados Bruno Fonseca da Silva, Miguel Carneiro, Bruno Diogo, Marco Mendes, Didi Vassi, Carla Filipe, Cecília Albuquerque e Isabel Carvalho reflectem, através do desenho, o papel do artista e do Salão Olímpico. “Miguel Carneiro apresenta, a partir de uma máquina de flippers, um percurso pelos vários espaços ditos independentes da cidade, entre eles, PêssegospráSemana, o Salão Olímpico, o Senhorio, o 555, os Maus Hábitos; enquanto que Marco Mendes avança com uma BD existencialista de um artista portuense, focando os elos de ligação que estabelece com outros artistas e a vontade de continuarem juntos; e Carla Filipe faz uma segunda apresentação da história do Salão Olímpico, porque a primeira consta do cartaz e folheto informativo do Busca Pólos”, exemplifica José Maia.
Em «Exposições no Salão Olímpico», Gisela Leal apresenta, através de um conjunto de textos e imagens, as obras e eventos realizados no próprio café, à semelhança do estudo de caso de Sandra Vieira Jürgens. O capítulo faz também a ponte com o trabalho de artistas que realizaram eventos semelhantes em Lisboa, como são os casos de João Fonte Santa, Pedro Amaral, Alice Geirinhas e Paulo Mendes. A crítica de arte acrescenta ainda todos os trabalhos patentes na «Exposição Busca Pólos», tanto em Guimarães como em Coimbra.
A secção «Textos de Artistas» recupera os artigos publicados nos fanzines do Salão Olímpico e na exposição Busca Pólos, da autoria de Isabel Carvalho, Eduardo Matos, Ângelo Ferreira de Sousa, Ana Pérez-Quiroga e Nuno Alexandre Ferreira. Muitos dos flyers e cartazes, cada qual com a sua história, foram criados pelos próprios artistas e, por isso, também constam deste livro. “Se tivéssemos mais páginas, mais imagens poderia incluir, sobre a montagem, o espaço e o público do Olímpico”, adianta José Maia. No final do livro, surgem as biografias resumidas dos artistas, com os respectivos contactos.

Lá dentro
“Dependendo do evento, a noite no Olímpico incluía música, flyers e textos das exposições. Houve concertos e todo o espaço era utilizado, não só a cave dos bilhares mas também as mesas do rés-do-chão”, relata Isabel Ribeiro, destacando as conversas de café, organizadas por José Maia.
Tratando-se de um local de convívio, o Salão Olímpico fortalecia a componente social da criação, para além de exibir o trabalho dos artistas. Havia lugar para a conversa quotidiana e o projecto fidelizou público, nomeadamente quando reconhecido fora de portas. “Quando avançamos para o Salão já havia uma história feita por artistas como Manuel Santos Maia (nome artístico de José Maia) e João Sousa Cardoso, e pelo conjunto de exposições que realizaram, mas também por espaços como a Caldeira 213. Nós pertencemos a uma geração de artistas extensa que se revê neste tipo de compromisso e de atitude, no que respeita à actividade artística e ao ser artista. Quando pensámos no Olímpico, fizemo-lo com uma série de artistas e com a sua disponibilidade para abraçar o projecto. A resposta foi abundante, toda a gente disse ‘Vamos avançar’. Daí que tenha sido possível ter um ano de programação ao fim de três meses de actividade”, esclarece Eduardo Matos. Contudo, ressalva: “Isto não era uma reunião, fizemos as nossas escolhas e nem toda a gente expôs aqui”.
Ao mesmo tempo que o café Salão Olímpico permitia ao projecto ter um espaço aberto e gratuito – cedido pelo proprietário Alberto Carvalho –, colocava várias questões quanto à instalação dos trabalhos e respectivas condições de recepção. “Como é que se entra aqui, como é que se vê, como se vai lá em baixo, como é que se está com as obras?”, questionava-se Eduardo Matos. Eventualmente, tudo foi sendo resolvido pelos artistas e pelas especificidades das suas propostas. Avançaram, independentemente das consequências, e tudo foi respeitado. A conversa, discussão e troca de ideias acontecia de modo espontâneo. À margem de uma linha curatorial definida, o Salão Olímpico privilegiou a diversidade de ideias. “Sempre estivemos, sim, interessados na singularidade de cada um dos artistas e na sua pluralidade. Cabia ao artista que cá expusesse ver o espaço, senti-lo e canalizar o seu quotidiano para a obra”, explica Eduardo Matos.
Noventa por cento do trabalho exibido no Salão Olímpico foi criado especificamente para o espaço, contrariando as dificuldades económicas e demonstrando a produção cultural de uma geração de artistas. “Devo dizer que é possível e até é fácil”, atira Eduardo Matos.

Depois do Olímpico
A história do Salão Olímpico acaba dia 11, com o lançamento do livro no café que acolheu o projecto de 2003 a 2005. Contudo, existirão outras histórias, noutros locais. “Cada espaço vive de uma energia e de um esforço enormes que têm o seu período de vida, precisam de uma certa reinvenção. Concluímos que, ao fim de quatro anos consecutivos de trabalho, já não tínhamos isso, apesar de nos ser já extremamente fácil fazer exposições e podermos continuar com isto por muitos anos”, justifica Eduardo Matos.
Isabel Ribeiro já ocupa um novo espaço com Carla Filipe. Chama-se Projecto Apêndice e está no Centro Comercial Cedofeita, loja 100. Trata-se de uma pequena área hexagonal, com montra e parede. “O que se pede é que os artistas produzam especificamente para ali. Tal como o Salão Olímpico, este espaço pode sobreviver sem a nossa presença física permanente”, refere Isabel Ribeiro. Cada exposição fica patente 15 dias, apresentando dois autores por mês. “Os artistas não deixam de trabalhar. Quando um projecto fecha, abre outro. A produção é contínua, as energias e formas como são apresentadas, e toda a dinâmica que nasce em torno delas, é que vão oscilando”, justifica Isabel Ribeiro.
No Porto, há outros espaços geridos por artistas: Caldeira 213 (1999), PêSSEGOpráSEMANA (2001), In.Transit (2002), Mad Woman in The Attic (2005) e Sala (2006). “O número de espaços tem vindo a aumentar e, de ano para ano, há mais um artista implicado num determinado espaço”, conclui José Maia.







Salão Olímpico
por Francisco Vaz Fernandes
na Revista DIF _ ARTE

Revista Mensal de Tendências e Guia Cultural
Gratuita
Número 48 Maio 2007
http://www.difmag.com/


Sem reivindicar qualquer característica especial e imprescindível para mostrar um trabalho artístico, um colectivo de artistas acabados de sair da Escola Superior de Belas-Artes do Porto organizou durante alguns anos uma programação regular de exposições e performances num salão de jogos na cave de um café local. O Salão Olímpico ofereceu-lhes durante 3 anos um canto, suficientemente perto do circuito das galerias do Porto – que lhes permitiu visibilidade - e suficientemente distante para criar uma individualidade própria e alternativa, tornando-se uma referência no meio artístico. Para os menos atentos acaba de ser lançado um livro, intitulado «Salão Olímpico», que condensa e documenta todo o trabalho desenvolvido durante os três anos.

O Salão Olímpico, com a sua programação regular de exposições, performances, apresentação e discussão de vídeos, depressa se tornou uma referência e uma alternativa ao que se poderia ver na Miguel Bombarda, rua que concentra o maior número de galerias comerciais do Porto. Sendo uma iniciativa de jovens artistas recém saídos da Faculdade de Belas-Artes do Porto, tornou-se igualmente um espaço de referência geracional, aberto a uma teia de relações que ultrapassam as limitações disciplinares e geográficas. Os fundadores Carla Filipe, Eduardo Matos, Isabel Ribeiro, Renato Ferrão e Rui Ribeiro criaram, como acontece em muitos espaços alternativos, o seu próprio espaço de exposição aberto a uma heterogeneidade de experiências que iam desde a pintura, instalação, vídeo e performance, abrindo-se à discussão de conceitos e de atitudes. No decurso de uma exposição organizada por este grupo para o Centro Cultural Vila Flor em Guimarães, surgiu a hipótese de realizar um catálogo que ficou a ser coordenado pelo artista Manuel Santos Maia. Porque o Salão Olímpico sempre foi um contexto alargado de artistas e de públicos que não estavam totalmente retratados na exposição que o Salão comissariava para Guimarães, decidiu-se fazer um livro sobre um contexto largado, que além de dar conta de todas as actividades do grupo em redor deste espaço, contextualiza a sua realidade num panorama cultural do Porto. Fizeram um levantamento exaustivo de espaços alternativos, associações e colectivos de todo o género que contribuem para o ambiente artístico do Porto. Este livro torna-se então num importante documento de toda uma dita “cultura alternativa” desenvolvida a partir de diferentes meios. Não é apenas um simples documento retrospectivo das exposições realizadas, o livro acaba por equacionar, a partir desta experiência, o papel fundamental dos espaços alternativos para o desenvolvimento cultural de uma cidade. E nesse sentido são evocadas as actividades desenvolvidas pela “PêssegoPráSemana”, Mad Woman in the Attic, In Transit de Paulo Mendes e a “Sala”. Para além de toda a documentação visual, existem diversos textos dos quais dois serão fundamentais. Sandra Vieira Jurgens tenta abordar o contexto de desenvolvimento dos espaços alternativos numa perspectiva histórica e política que vem desde o séc. XIX, evocando as condições que levaram desde o modernismo até hoje à emergência de plataformas de exibição mais flexíveis e descentralizadas que permitem um heterogeneidade de escolhas e de situações singulares, que se impõem a uma tendência estética dominante. Tenta ainda equacionar os propósitos anunciados pelos fundadores do Salão Olímpico equacionando as suas actividades a programas de outros espaços alternativos que surgiram nos últimos anos no Porto, Lisboa e Caldas da Rainha. Marco Mendes completa estas perspectivas com um texto bastante original sobre o percurso da edição local de fanzines em parte relacionados com espaços alternativos e bandas de música do Porto. É um levantamento relevante e com importância histórica, até agora nunca realizado num documento único. No todo, é um livro interessante para uma consciencialização do espaço fundamental que grupos mais informais ocupam na vitalização cultural de um país.